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  • MAIS SOBRE O S.DOMINGOS DE............QUEIMADA

     Pedra Comprida

    A Pedra Comprida de S. Domingos, referida por Leite de Vasconcelos em Tradições Populares de Portugal, fica no topo do monte com o mesmo nome e subjaz, em parte, à capela românica (Foto 1) construída no século XII em honra do santo fundador da Ordem dos Pregadores. O local, no passado, foi alvo de disputa das três freguesias vizinhas, Fontelo, Valdigem e Queimada, pertencendo actualmente ao Fontelo, concelho de Armamar (Ver mapa 1). Até ao século XVIII a capela foi conhecida por S. Domingos da Queimada e é assim que Rui de Pina a menciona quando relata a romagem de D. João II ao local. Um documento datado de 1726 menciona a “capela de S. Domingos de Queimada, sita na freguesia de Fontelo”
    A parte visível da Pedra, no exterior da capela , fica encostada à porta da sacristia, lado norte, e é atravessada por um sulco longitudinal para escorrimento de água ou um qualquer outro líquido utilizado nos rituais de outrora. O sulco referido subjaz à parede do edifício, sinal de que a Pedra se prolonga para o interior da capela: e, na verdade, em frente e contíguo ao altar lateral esquerdo, estando o observador virado para o altar-mor, o chão é constituído por um extenso lajedo quase contínuo em que avultam três ou quatro sulcos tapados com uma qualquer argamassa bem visíveis na Foto 3. Justificado ficará assim o qualificativo de Comprida atribuído pela tradição a esta Pedra da Fertilidade. Quatro escadinhas bem visíveis na Foto 2 dão acesso ao topo da Pedra no centro da qual existe também uma poça bem notória, apesar do desgaste, e que serviria para apoio de uma qualquer trave vertical que suportaria a estrutura de eventual coberto. A área afecta aos rituais da Fecundidade seria assim um espaço coberto, certamente com materiais perecíveis, o que tem toda a lógica! É que nem sempre faz bom tempo e o pudor e o recato, que a situação exige, serão de todos os tempos e lugares!
    A construção da capela por sobre o local afecto a tais ritos antigos parece evidenciar o propósito nítido da afirmação da nova ordem - o Cristianismo - com a intenção de anular concepções e práticas ditas pagãs. Pela capela se cristianizou assim a Pedra e o lugar. A Pedra dita da Fertilidade, e não apenas essa, condicionaram, é notório, a construção da capela já que o chão da mesma se encontra ao nível das pedras pré-existentes, daí derivando que as portas exteriores (a principal, lado sul e lado norte) se encontram bastante em alto tendo em atenção o terreno (mais de 1,5 m, seguramente!). Para o efeito de aceder ao interior da capela lá estão as respectivas escadas em granito, aí incluídas as do lado norte que estão incrustadas e são parte integrante da Ara da Fertilidade.
    Segundo informação do Sr. Rui Manuel Osório Rodrigues, secretário da Irmandade de S. Domingos, a quem agradeço o ter-me proporcionado visitar o interior da capela, na parte de trás do altar-mor, teria existido uma entrada para um qualquer espaço subterrâneo... Este tipo de cavernas ou “cisternas”, caso da Senhora da Cola (Ourique), andam associadas e complementam o fenómeno das Pedras de Escorregar, como sendo mais um elemento do culto cteísta ou ctónico dos nossos antepassados. Tudo isto em relação com o poder da fecundidade da Terra e até com os poderes mágicos da Serpente como símbolo que dela emerge e nela se esconde. Ainda, na encosta virada a Nascente, está a capelinha da devoção a Santa Catarina. Este dado também não é despiciendo nem ocasional no contexto de um local afecto a ritos da fertilidade e da procriação; é que, a(s) catarina(s) mais não são que as “kátaras” (do grego) ou puras - as virgens - à volta das quais, e certamente, haveria também rituais próprios com vista à iniciação e ao noivado.
    A título de curiosidade, já em pleno século XV, consta que «D. Afonso V visitou com muita devoção uma ermida do nosso santo patriarca, S. Domingos, ao qual chamam S. Domingos da Queimada, no bispado de Lamego. Tem toda aquela comarca fé e experiência que, por intercessão do santo, alcançarão remédio os casados que se temem da esterilidade. “Assim o alcançou el-rei porque nove meses depois desta romaria pariu a rainha uma filha cuja vida e costumes foram tais que bem mostrou Deus nela que foram dádiva sua. Nasceu esta senhora no ano de 1452 e logo foi jurada princesa por todos os estados do reino que acertaram a achar-se juntos na conjunção do seu nascimento...”. A princesa ingressou depois na Ordem de S. Domingos, retorno às origens» (Moisés Espírito Santo, Fontes Remotas da Cultura Portuguesa, página 157).
    Mas também D. João II e D.a Leonor se deslocaram a S. Domingos procurando ajuda divina para que lhes fosse concedido um sucessor repetindo-se o ritual e com igual resultado. Voltaram a S. Domingos uma segunda vez, em finais de 1483, já com o seu filho varão, o príncipe D. Afonso, nascido a 18 de Maio de 1475. Desde então são atribuídos a S. Domingos e particularmente à “fraga” poderes de procriação.....................


  • Um 2011 que já nasce tolhido

    (O ano de 2011, não vai ser um ano de recuperação, porque não vamos recuperar coisa nenhuma.
    Estruturalmente, não vejo medidas sólidas que levem a essa reestruturação. Vai sim, ser um ano em que, mais uma vez, serão postas a nu todas nossas limitações e a incapacidade dos nossos políticos de conseguirem gerir um país)
    Este novo ano de 2011 já nasce cheio de mazelas, esclerosado, minado de reumático, roído de artrose, mais velho que o velho mais velho que ainda sobrevive neste país. E nem vale a pena que Sócrates o pinte como um ano de sacrifício – porque sabemos que vai ser de tortura, nem que diga que vai valer a pena – porque andamos a sacrificar-nos ano após ano para no fim ficarmos pior. 2011 vai ser um ano de profundas convulsões políticas, sociais e, mais uma vez, um ano em que o país andará gerido por contas de merceeiro, sem rei nem roque, sem destino, sem
    saber onde quer chegar.
    Muito brevemente teremos a prova de que, ao nível dos grandes tachos nas principais empresas públicas onde se assenta a incompetência em grande parte responsável pelo estado da Nação, e com o término dos mandatos dessas administrações, nada mudará, e o Governo nomeará novos “boys” para os que decidirem abandonar ou trocar de cargo, ou reconduzir quem quiser continuar. Ou seja: ao nível das cúpulas do Estado, tudo continuará na mesma: compadrio, amigalhaços, corrupção política.
    Ao nível das reformas de fundo, havemos de ver que tudo continuará na mesma, especialmente na Justiça, onde os mecanismos de combate à alta corrupção se ensarilharão mais, impedindo que os grande corruptos
    deste país sejam levados aos bancos dos réus e devidamente condenados. Ou seja: as relações de cumplicidade entre o poder político e económico, a troca de favores, a interligação entre os negócios do
    Estado e os negócios privados continuarão a ser o pão-nosso de cada dia. Em tempo de crise, a corrupção vai avançar, como é usual, e novas fortunas se vão fazer. A História assim nos demonstra.
    Pelo meio, umas insípidas eleições para a Presidência da República, antecipadamente ganhas por Cavaco Silva, não vão aquentar nem arrefentar nada.
    Cavaco é situacionista, nem sequer é um reformista.
    Mas os restantes candidatos não se sabe o que são.
    São candidatos, e nada mais.
    Entretanto, do outro lado, do lado negro da realidade, sobra a grande maioria dos portugueses, que vão apertar o cinto, sabe-se lá como. Um insuportável aumento de IVA vai fomentar o mercado paralelo
    onde o Estado não verá um cêntimo. Aumento de preços com aumento de desemprego, é uma mistura explosiva, e mesmo considerando que somos um país de brandos costumes, não está posta de parte o aparecimento
    de nichos de convulsão social que se podem alastrar.
    Economicamente, o mercado interno estagnará. Os produtos
    aumentarão de preço e os portugueses não terão dinheiro para os adquirir. Restam-nos as exportações, que terão de aumentar exponencialmente para equilibrar a balança. E como?
    Se o nosso tecido industrial está desbaratado?
    Sob o ponto de vista das competências, continuaremos a ver a nossa juventude mais bem preparada academicamente, a pegar nas
    licenciaturas, mestrados e doutoramentos, e a debandar mundo fora.
    Por cá, ficam os que não podem ir, ou os que não têm profissão definida.
    O ano de 2011, não vai ser um ano de recuperação, porque não vamos recuperar coisa nenhuma. Porque estruturalmente, não vejo medidas sólidas que levem a essa reestruturação. Vai sim, ser um ano em que, mais uma vez, serão postas a nu todas nossas limitações e a incapacidade dos nossos políticos para conseguirem gerir um país. Porque a intenção deles
    não é governar, mas governaremse.
    E bem podem dizer que há outros países na UE que também vão
    fazer sacrifícios como o nosso. Pois vão. Mas esses, no final de 2011, terão o seu prémio, e nós não. Porque esses, têm estrutura, e basta-lhes um ano de contenção e recuperam. Nós, continuaremos orgulhosamente sós a carpir as nossas mágoas e aturar, pacificamente, uma classe política
    medíocre e interesseira, para quem o país é um saldo numa conta bancária suíça ou num “off shore” de qualquer ilha perdida desses
    imensos oceanos.

    Por Francisco Gouveia, Engº
    in:dodouro do 31-12-2010