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Um 2011 que já nasce tolhido

(O ano de 2011, não vai ser um ano de recuperação, porque não vamos recuperar coisa nenhuma.
Estruturalmente, não vejo medidas sólidas que levem a essa reestruturação. Vai sim, ser um ano em que, mais uma vez, serão postas a nu todas nossas limitações e a incapacidade dos nossos políticos de conseguirem gerir um país)
Este novo ano de 2011 já nasce cheio de mazelas, esclerosado, minado de reumático, roído de artrose, mais velho que o velho mais velho que ainda sobrevive neste país. E nem vale a pena que Sócrates o pinte como um ano de sacrifício – porque sabemos que vai ser de tortura, nem que diga que vai valer a pena – porque andamos a sacrificar-nos ano após ano para no fim ficarmos pior. 2011 vai ser um ano de profundas convulsões políticas, sociais e, mais uma vez, um ano em que o país andará gerido por contas de merceeiro, sem rei nem roque, sem destino, sem
saber onde quer chegar.
Muito brevemente teremos a prova de que, ao nível dos grandes tachos nas principais empresas públicas onde se assenta a incompetência em grande parte responsável pelo estado da Nação, e com o término dos mandatos dessas administrações, nada mudará, e o Governo nomeará novos “boys” para os que decidirem abandonar ou trocar de cargo, ou reconduzir quem quiser continuar. Ou seja: ao nível das cúpulas do Estado, tudo continuará na mesma: compadrio, amigalhaços, corrupção política.
Ao nível das reformas de fundo, havemos de ver que tudo continuará na mesma, especialmente na Justiça, onde os mecanismos de combate à alta corrupção se ensarilharão mais, impedindo que os grande corruptos
deste país sejam levados aos bancos dos réus e devidamente condenados. Ou seja: as relações de cumplicidade entre o poder político e económico, a troca de favores, a interligação entre os negócios do
Estado e os negócios privados continuarão a ser o pão-nosso de cada dia. Em tempo de crise, a corrupção vai avançar, como é usual, e novas fortunas se vão fazer. A História assim nos demonstra.
Pelo meio, umas insípidas eleições para a Presidência da República, antecipadamente ganhas por Cavaco Silva, não vão aquentar nem arrefentar nada.
Cavaco é situacionista, nem sequer é um reformista.
Mas os restantes candidatos não se sabe o que são.
São candidatos, e nada mais.
Entretanto, do outro lado, do lado negro da realidade, sobra a grande maioria dos portugueses, que vão apertar o cinto, sabe-se lá como. Um insuportável aumento de IVA vai fomentar o mercado paralelo
onde o Estado não verá um cêntimo. Aumento de preços com aumento de desemprego, é uma mistura explosiva, e mesmo considerando que somos um país de brandos costumes, não está posta de parte o aparecimento
de nichos de convulsão social que se podem alastrar.
Economicamente, o mercado interno estagnará. Os produtos
aumentarão de preço e os portugueses não terão dinheiro para os adquirir. Restam-nos as exportações, que terão de aumentar exponencialmente para equilibrar a balança. E como?
Se o nosso tecido industrial está desbaratado?
Sob o ponto de vista das competências, continuaremos a ver a nossa juventude mais bem preparada academicamente, a pegar nas
licenciaturas, mestrados e doutoramentos, e a debandar mundo fora.
Por cá, ficam os que não podem ir, ou os que não têm profissão definida.
O ano de 2011, não vai ser um ano de recuperação, porque não vamos recuperar coisa nenhuma. Porque estruturalmente, não vejo medidas sólidas que levem a essa reestruturação. Vai sim, ser um ano em que, mais uma vez, serão postas a nu todas nossas limitações e a incapacidade dos nossos políticos para conseguirem gerir um país. Porque a intenção deles
não é governar, mas governaremse.
E bem podem dizer que há outros países na UE que também vão
fazer sacrifícios como o nosso. Pois vão. Mas esses, no final de 2011, terão o seu prémio, e nós não. Porque esses, têm estrutura, e basta-lhes um ano de contenção e recuperam. Nós, continuaremos orgulhosamente sós a carpir as nossas mágoas e aturar, pacificamente, uma classe política
medíocre e interesseira, para quem o país é um saldo numa conta bancária suíça ou num “off shore” de qualquer ilha perdida desses
imensos oceanos.

Por Francisco Gouveia, Engº
in:dodouro do 31-12-2010

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