(Depois de nos destruírem a agricultura, as pescas e a indústria, impingiram-nos o Euro, tornaram-nos subsídiodependentes, e agora sufocam-nos com exigências descabidas.
Prometeram-nos o céu, e deram-nos o inferno)
Quando, em 1974, nos libertamos da ditadura, começamos finalmente a caminhar livremente pelo nosso pé.
Depois da Revolução de Abril, cometemos muitos erros, é certo, mas possuía-mos alguns alicerces onde nos agarrarmos, como seja uma agricultura que ainda mexia, uma frota pesqueira a que faltava somente um empurrãozinho, estaleiros de fama mundial, uma indústria instalada e diversificada, e uma moeda forte, que havia resistido sem abalo a duas guerras mundiais e ao isolamento a que nos votou o salazarismo.
Éramos nós a tomar conta de nós, e depois de um período de instabilidade política, conseguimos finalmente a pacificação, entrando o regime democrático nos eixos.
Não dependíamos de ninguém, e podíamo-nos gabar de termos saído airosamente de uma ditadura. E mesmo a descolonização (quanto a mim apressada e muito pouco ponderada), que encheu o país de regressados das ex-colónias a que tivemos de dar resposta, abalou-nos as Finanças mas não nos fez cair.
O Banco de Portugal abarrotava de ouro, sendo uma das maiores reservas do mundo.
A pouco e pouco, o tecido social e económico ia-se adaptando aos novos tempos.
Até que, com estratégia bem montada, nos foram impingindo a Europa. A tal Europa, topo da civilização, única área do planeta onde se cultivava a sério os Direitos Humanos, e onde se cuidava com prioridade, do bem-estar dos cidadãos.
E lá fomos, atrás da tal Europa que, anos antes, nos havia levado braços de trabalho no éden da emigração.
Depois, foi o emoldurar do quadro, com as promessas de ajuda para o nosso desenvolvimento imediato. E nessa conversa, encheram-nos de dinheiro, e nós, sem ninguém que nos controlasse, desbaratamo-lo em cimento e betão, esquecendo que a riqueza dos povos é a sua massa humana.
Nessa altura, não cuidou a Europa de fiscalizar o destino dos triliões que aqui metia. Pelo contrário, em contrapartida, foi-nos minando, destruindo a nossa agricultura, as pescas e a nossa indústria. Num instante nos tornamos dependentes do dinheiro com que nos comprava a independência.
Cá dentro, políticos pouco avisados e interesseiros, foram alinhando com as posições europeias, e nós, a confiar neles.
E foi o que se viu. E é o que se vê.
E a mesma Europa que tão lícita foi em nos meter cá dentro tanto dinheiro, é agora a usurária que nos exige couro e cabelo. É a mesma que agora nos põe a pão e água. É a mesma que, depois de ter destruído a Grécia, se prepara para nos destruir.
E porquê?
Bruxelas, longe de ser o organismo máximo que dirige a Comunidade, cedo se transformou no maior centro do mundo de tráfico de influências, onde os mercados mandam, e onde se impõem regras conforme convém aos senhores do mundo, hoje em dia já contabilizados e detentores da maioria do dinheiro e bens que circulam no planeta.
Não podemos, por tal, esperar grandes ajudas e compreensões de lá, onde, por acaso, manda um português, nem do Banco Central Europeu onde vice manda outro Português, nem ao Centro de Estudos onde impera outro português, ainda recentemente o pai da nossa maldita austeridade.
Tínhamos acabado de sair de uma ditadura – dizia eu, e mal sabíamos que, com outro disfarce, caminhávamos para outra, décadas após.
Porque é uma ditadura, este estado em vivemos.
A nossa dívida é, tecnicamente, impagável. O dinheiro dos nossos sacrifícios, não resolve nada. Nem atenua.
Esta semana, fomos surpreendidos. Depois de tanto sacrifício, ficamos a saber que o FMI ainda não estava satisfeito, e já nos exige um corte de 2.000 milhões, este ano, e cerca de 1.000 milhões para o ano.
São insaciáveis, estes usurários.
Mais valia terem-nos deixado estar, neste cantinho, com uma democracia conquistada, uma moeda que era nossa, e um futuro que estava somente nas nossas mãos.
Assim, perdemos pau e bola.
Por Francisco Gouveia, Eng.º
gouveiafrancisco@hotmail.com