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Douro pelas costuras

Hotéis estão cheios, mas pequenos agricultores queixam-se que este ano há menos vinho
EDUARDO PINTO/jornal de noticias

Parece um bago este Douro que rebenta de vinho e turistas. O vinho, como produto último das vindimas. Os turistas, colheita em tempo delas. Cada qual com seu destino. O vinho enche cubas, os turistas hotéis.

Dão para todos estes dias de festa na Região Demarcada do Douro. Os lavradores louvam o produto de um ano de trabalho, os agentes turísticos nunca foram tão solicitados, encontrar alojamento vago é uma autêntica aventura e o número de refeições servidas dispara. E assim vai continuar por mais uma ou duas semanas.

Cenário de ilusão? Não. Felizmente para quem opera empreendimentos turísticos no Douro, a região que é Património Mundial vai para oito anos está mesmo na moda. Já estava, mas agora está mais. Que o diga António Martinho, presidente da Turismo do Douro, que anda satisfeito da vida com os resultados preliminares de estudos que "mostram que o Douro é a segunda região mais atractiva do país" e que na época de vindimas "há muita ocupação hoteleira". Que o diga António José Teixeira, da Rota do Vinho do Porto, que, sem avançar números, nota que o Douro teve "o melhor Agosto de sempre", em termos de ocupação, e "o Setembro está a ter taxas excelentes". Que o diga Luís Barros, da Enoteca Douro, em Favaios, a cuja porta já bateram este mês cerca de dois mil turistas a querer experimentar a lufa-lufa da vindima e o baptismo de uma lagarada. Que o diga Cláudia Quevedo, que na sua quinta, às portas de S. João da Pesqueira, tem sorrido a centenas de visitantes estrangeiros curiosos até mais não. Que o diga Augusto Azevedo que tem visto o seu Hotel Folgosa Douro, em Armamar, com uma ocupação que não imaginara quando o abriu há 10 meses.

Cenário de ilusão? Sim. Infelizmente para o pequeno lavrador que vive da viticultura no Douro, de pouco lhe serve a moda da região que é património mundial mas que não lhe medra o pão. Este ano vão produzir-se menos 13500 pipas de vinho com direito a benefício. De 123,500 passou para 110 mil e a diferença traduz-se em menos 13,5 milhões de euros de rendimento.

Perdem todos, mas o pequeno agricultor perde mais. As uvas que não vender para o Vinho do Porto entrega-as para vinhos de mesa. E se lhas quiserem, o mais certo é receber 100 a 150 euros por pipa, com a agravante de, em muitos casos, nem saber quando os vai receber. Não admira que o presidente da Casa do Douro, Manuel António Santos, mesmo com consciência da dureza das palavras, solte que em muitos lares da Região Demarcada do Douro ainda se há-de voltar a comer "o arrozinho com molho de tomate e uma sardinha para duas ou três pessoas".

Não vai tão longe Pedro Perry, viticultor do Pinhão, mas avoca que "os pequenos e médios lavradores, que são a identidade do Douro, estão cada vez pior". Explica: "Temos de ter pessoal durante todo o ano para manter a vinha e com isto temos encargos que são difíceis de suportar e conseguir subsistir".

Não choveu que se visse no Verão e as uvas atingiram o ponto mais cedo que o normal. Ora, toca a antecipar as vindimas porque senão o vinho evapora-se. Muitos dos bagos já são quase passas e o resultado é que os produtores estão a ter pouco vinho, mas com muito grau. A qualidade compensará a menor quantidade. Terminada a vindima, o bago do turismo rebenta. António Martinho gostaria de vê-lo cheio durante todo o ano. Desafio: alcançar o meio milhão de dormidas anuais no Douro até 2013.

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